terça-feira, 14 de julho de 2009

Centenário de um Clássico


Domingo de Clássico Grenal é assim, um dia especial. O domingo por si só já é um dia diferente, mas quando se tem um confronto entre gremistas e colorados – e em sua maioria são disputados no primeiro dia da semana – ai sim é excepcional. Casais nos parques unidos (ou divididos) pela sua paixão clubística, carros devidamente decorados com sua cor preferida e claro, muitas camisetas de Grêmio e Inter espalhadas pela Capital e pelo Rio Grande do Sul inteiro.



Me lembro quando era mais novo – bem mais novo, diga-se de passagem – e acordava angustiado com o certame que se aproximava. Porque sim, eu torcia devotamente durante minha infância e juventude, assim como todos neste Estado tão aguerrido e bravo. O almoço demorava a chegar e do jeito que chegava era devorado com ferocidade. O tempo custava a passar e o rádio ligado no pré-jornada da Rádio Gaúcha retransmitia as últimas informações do confronto.

Então era chegada a hora, quase sempre às quatro da tarde. O local para assistir era a casa do meu primo, tão ou mais fanático do que eu. E sim, em sua maioria pela TV, porque supersticioso que era, tinha medo de dar o azar de assistir no Estádio e o meu time perder para o maior rival, o que seria uma tragédia.

Cada ataque era um nervosismo tremendo e, quando o rival pressionava, a angústia era maior ainda. No total, 90 minutos de adrenalina pura, como se aquela hora e meia de futebol fosse mudar o rumo de uma vida toda. Finalizado o duelo, ficava o gosto saboroso da vitória e a certeza de boas risadas em cima dos amigos rivais, ou a temeridade do tamanho da gozação pela derrota para o arqui-inimigo.

Difícil conseguir descrever as emoções que um Grenal passa para quem é apaixonado por futebol, independente da cor que defende. Alegria, ódio, paixão, pavor, sofrimento, raiva, euforia e muita, muita emoção reunidos em uma única partida de futebol.

O tempo passou, amadureci, me formei e hoje sou um profissional isento. Dos tempos de infância ficou a paixão pelo esporte que hoje acompanho de perto. No próximo domingo o clássico Grenal completa um século de existência e eu estarei lá, dentro do gramado do Estádio Olímpico registrando os momentos de mais um duelo que certamente entrará para a história.




Nas fotos, imagens do confronto de número 376, disputado no Estádio Beira-Rio pelas quartas-de-final da Taça Fábio Koff (segundo turno do Campeonato Gaúcho 2009), em 5 de abril deste ano e que terminou com o placar de 2x1 para o Internacional.
















sexta-feira, 22 de maio de 2009

Um monstro chamado Oasis




Eram exatas 21h45 quando Liam e Noel Gallengher, acompanhados de todo seu staff, pisaram no palco do Gigantinho para o delírio dos mais de 12 mil fãs presentes. A abertura havia sido morna, com os gaúchos da Cachorro Grande mobilizando o público apenas no final com a balada “Sinceramente”. Mas o que todos ali queriam, inclusive os integrantes da Cachorro, era ver os britânicos em ação pela primeira vez em solo Rio-grandense.


Empunhando bandeiras da Grã-Bretanha e cartazes exagerados – como “Liam or Dead” – os fãs deliraram com a abertura pegada de "Rock 'N' Roll Star", música do primeiro CD da banda, “Definitely Maybe”. Na seqüência o mix de hits antigos e músicas novas como, “Lyle”, “Cigarettes and Alcohol”, “Waiting for the Rapture”, “Mornig Glory”, entre outras. Depois de passar por Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba, o cansaço parecia afetar o grupo, que se viu obrigado a encontrar forças da platéia para dedilhar seus sucessos.

Mas o ápice do show ficou para o final. Com seu sobretudo preto e sua meia-lua em punho, Liam puxou o clássico “Wonderwall” fazendo tremer as estruturas do ginásio. Com uma empolgação que fez o vocalista assistir estático, os gaúchos cantaram em coro todo o refrão recebendo aplausos dos músicos ao final da canção. E como de praxe, os irmãos Gallengher não deixaram a rivalidade tradicional de lado. Porém, desta vez a briga foi para ver quem animava mais o público.

No retorno para o bis, após terem executado “Supersonic”, foi a vez de Noel reger o coro com a não menos clássica “Don`t Look Back in Anger”. Uma emoção sem precedente até aquele momento contagiou os fãs que acompanharam na íntegra cada estrofe, fazendo outra vez os britânicos se renderem ao entusiasmo da platéia. Antes do apagar dos refletores, ainda deu tempo para curtir “Champagne Supernova” e o cover dos Beatles, “I Am The Walrus”. Noite histórica para aqueles que esperaram mais de 15 anos para ver a banda que se auto intitula, a melhor do mundo.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Into the Wild – part I


Uma vida pacata, boas notas na faculdade e o primeiro entre os atletas da mesma idade. Auge da juventude, 22 anos, e algumas rebeldias reprimidas no âmago a ponto de explodir a qualquer momento. A solução? Largar todo conforto e praticidade, juntar algumas mudas de roupa, colocar na mochila e sair sem destino país afora sem lenço nem documento. Foi isso que fez Christopher J. McCandless. Em 1990.

O final de semana ia indo bem, bastante amor e felicidade, até que eu e a Alice decidimos pegar um filme para complementar a programação. Sábado, final de noite, quase todos os lançamentos já estavam fora quando surgiu a idéia de assistirmos “Na Natureza Selvagem”, um filme que anteriormente ouvimos a história e que agora surgia como opção. Inicialmente, relutei, mas cedi ao que parecia simplesmente mais um roteiro ‘baseado em uma história real’. Então começamos a assistir os 148 minutos do DVD. Cada troca de cena, entre um abraço apertado e outro, o filme ia prendendo mais e mais a atenção. Ao final, extasiado com aquela comovente história, comecei a relembrar fatos e a fazer uma reflexão – o que deve ter acontecido com muitos outros espectadores da obra dirigida por Sean Penn.

Mas vamos ao que interessa. Meados de setembro de 1992 quando chega a notícia de um corpo encontrado junto a um ônibus em uma área inóspita do Alasca, norte dos Estados Unidos. Intrigados em saber como aquele jovem morrera no local, as editores da revista Outside escalam Jon Krakauer para desvendar um pouco deste mistério e escrever um artigo sobre o assunto. Com a deadline apertada – como de praxe nos meios de comunicação – Krakauer escreveu um artigo de 9 mil caracteres publicado na edição de janeiro 1993 da Outside. Contudo, o fascínio do jornalista pelo caso extrapolou as barreiras da publicação e, depois de um ano seguindo os passos de McCandless, escreveu o livro “Into The Wild”, brilhantemente adapatado para o cinema por Sean Penn, interpretado por Emile Hirsch e com ótima trilha de Eddie Vedder (do Pearl Jam).

O Mistério de McCandless




Com a chegada do verão de 1990 nos Estados Unidos, se aproximavam as formaturas nas universidades. E foi logo após a sua graduação que Christopher J. McCandless – jovem de boas notas, de boa família e com um futuro brilhante pela frente – decidiu mudar o rumo de sua vida. Sem avisar nenhum de seus parentes, doou para caridade todos os 24 mil dólares que havia economizado durante o período de estudos, juntou algumas roupas e sai com seu velho carro em direção aos campos de trigo da Dakota do Sul. Depois de alguns dias, abandonou o carro, queimou o dinheiro e seguiu a pé seu destino, sem nenhum apego material.

Entre as andanças por variados estados foi conhecendo e mudando o destino de algumas pessoas. Apesar disso, nunca esquecera de seu principal objetivo: chegar ao Alasca. Passaram-se dois anos até a chegada ao local planejado. Em abril de 1992, Chris McCandless – ou Alex Supertramp como se auto batizara – enfim “caminhava em direção a natureza selvagem”. Com sua espingarda, câmera fotográfica, livros e diário passou situações extremas. Desde o prazer da mais pura liberdade até a dor de morrer de fome, abandonado no meio do nada. Antes disso, passados dois meses de solidão ele conseguira concluir o que havia chamado de “ultima batalha para vencer o falso ser interior e concluir com êxito a peregrinação espiritual”. Entre uma leitura e outra, escreve em seu diária a frase – que na minha opinião – é uma grande lição: HAPINESS IS ONLY REAL WHEN IT`S SHARED ( A felicidade só é verdadeira quando compartilhada).

Com a batalha concluída, parte para o final de sua aventura: o retorno triunfal para a civilização. Depois de alguns quilômetros entre a mata, chega ao rio onde há sessenta e sete dias antes havia cruzado sem maiores dificuldades. Porém, com as chuvas e o desgelo da montanha, a corredeira se tornara extensa e violenta, impossível de atravessar. Sozinho e apavorado, retorna para o ônibus onde residia. Com o passar das semanas, a caça foi migrando e a comida ficando escassa. Morrendo de fome, McCandless para em busca de plantas e ervas para recuperar a energia que gastara. Confuso, acaba comendo uma erva-daninha, extremamente venenosa, que ocasiona a sua morte.

No dia 6 de setembro de 1992, o corpo de Chris McCandless foi encontrado por um grupo de caçadores, provavelmente 19 dias após a sua morte.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

The Offspring


Um ano, 16 dias e um disco depois, os norte-americanos do Offspring voltaram a pisar em solo gaúcho para exibir seu sempre pegado punkrock. Como fora na apresentação de 2004, os gaúchos da Tequila Baby ficaram com a missão de aquecer o público presente no Pepsi On Stage. E o trabalho foi feito. Mesclando hits clássicos como Velhas Fotos, Sangue, Ouro e Pólvora, e Caindo com as novas músicas do recém-lançado “Lobos Não Usam Coleira”. Com as turbinas da moçada aquecida, era hora do grande show da noite. Por volta de 22h35, Dexter Holland (guitarra/vocal), Noodles(guitarra), Greg (baixo) e Pete Parada (bateria) fizeram a temperatura subir com o primeiro acorde de Stuff Is Messed Up, do novo álbum Rise and Fall, Rage and Grace.

Mas o que o público queria, na verdade, era um revival de todos os clássicos da banda. E ela veio logo na seqüência. Sem tempo para respirar, o grupo emendou All I Want e em seguida, empunhando sua guitarra, Dexter puxou o hit Come out and Play, fazendo a poeira subir na platéia. O que se viu a partir dali foi um show repleto de energia – apesar da idade já, levemente, avançada do grupo –, tendo o álbum americana como carro-chefe. Entre as executadas disco de 1998, destaque para as manjadas e adoradas Pretty Fly (for a White Guy), Why Don`t Get a Job e The Kids Aren`t Alright.

Mas como a banda não vive apenas do passado, os primeiros singles de Rise and Fall, Rage and Grace, também foram palhetados com grande competência. Entre os destaques, Hammerhead e You Gonna Go Far, Kid demonstrando que o amadurecimento também faz bem. Mas, como nem tudo é perfeito, um pequeno, digamos assim, deslise ficou por conta da balada Kristy, Are You Doing Okay?. Com um violão em mãos, Dexter parecia mais um cantar de emocore – estilo por vezes execrado pelo público – do que propriamente um dos precursores do new punkrock, surgido no inicio dos anos 90.

Por fim, depois de uma pequena pausa, o bis veio para coroar a grande noite do público gaúcho. Com três pegadas fortes, (I can't get my) Head Around You, Want You Bad e Self Esteem para deixar todos os presentes com sua auto-estima nas alturas e ir para a casa com os ouvidos anestesiados devido a uma overdose de boa música.
Fotos: Lucas Uebel

quarta-feira, 28 de maio de 2008

A Inspiração


"Para capturar uma foto é preciso colocar cabeça, olhos e coração no mesmo eixo"

Foi inspirado em uma imagem de Martin Munkacsi (que mostrava três garotos africanos correndo pelados em direção ao Lago Tanganyika, em um registro único de liberdade, graça e espontaneidade) que Henri Cartier-Bresson decidiu levar a fotografia a sério. "Quando eu vi a fotografia de Munkacsi eu não pude acreditar que tal momento havia sido capturado por uma máquina fotográfica. Eu disse dane-se, peguei minha câmera e sai para a rua", confessava o francês.

O título desse blog provém de um dos primeiros livros de Cartier-Bresson, justamente denominado, "The Decisive Moment". De acordo com o autor, "não existe nada neste mundo que não tenho o seu momento decisivo". E completava dizendo que "existe uma fração de segundo criativa quando você está fotografando. Seus olhos devem ver a composição ou ainda a expressão que a vida lhe oferece e você deve, com intuição, saber o momento certo para clicar...Uma vez que você perde o momento, isto passa para sempre".

Com as novas tecnologias e a massificação de profissionais de imagem, muito mais que estar presente no momento decisivo e saber a hora de clicar, acredito que o fotojornalista deve estar pronto para interpretá-lo, também em palavras. Este será o diferencial do profissional em imagem do futuro, saber ver o momento e descrevé-lo em uma matéria completa. Esta é a intenção ao criar este blog, não só descrever os meus "momentos decisivos" com uma máquina em punho, mas também discorrer sobre imagens produzidas por outros profissionais e que realmente sejam registros de espontaneidade, graça ou liberdade.